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Crítica – “X-Men 97” é a prova viva de que a nostalgia e a inovação podem andar juntos

Continuação da clássica animação traz frescor para o gênero, mostrando que boas ideias podem ser executadas de maneira simples.

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Filmes e revivals nostálgicos não estão bem vistos ultimamente. Com grandes produções fracassando drasticamente, como “Star Wars Episódio IX” ou “Jurassic World: Domínio”, narrativas que invocam personagens de obras memoráveis estavam sendo deixadas de lado. Foi então que, de maneira repentina, “X-Men 97” foi anunciado. Categorizada como uma continuação da clássica animação dos mutantes de 96, a série poderia ser um desastre total. Afinal, este é o pesadelo que assombra o nosso querido Kevin Feige: Como atrair um novo público sem perder o antigo? Felizmente, para os fãs mais velhos, “X-Men 97”, animação criada por Beau DeMayo, surpreende muito. O que posso dizer, sem exageros, é que provavelmente se tornou uma das melhores séries da Marvel e do Disney+.

A proposta da animação em geral é simples: dando continuidade ao desfecho de 96, o professor Charles Xavier falece e, um ano depois, vemos a equipe lidando com a perda e tentando continuar o legado do professor. É neste momento que a Marvel poderia deixar tudo como está e seguir um caminho simples de uma série episódica. Afinal, eu acredito que se fosse algo mais nostálgico e pouco complexo, funcionária de qualquer forma, entende?

Contudo, a Casa das Ideias precisou encarar as coisas de outra forma e trazer um elemento de frescor ao revival. O que já podemos ver ao final do primeiro episódio é que, até então, o vilão na mente do novo público se torna o líder dos X-Men.

E assim são conduzidos os três primeiros episódios: uma ideia nostálgica e um leve frescor do que o futuro pode trazer. Além disso, algo que me agradou muito foi que eles não jogam a animação de 96 para escanteio. Eles olham de maneira respeitosa e resgatam elementos importantes, mas sem que te force a assistir algo além dela mesma. Porém, se minha recomendação vale algo para você, caro leitor, reveja a clássica animação, ela é muito boa!

Eis que, de maneira muito bem-vinda, chegamos ao quarto episódio depois de um momento muito intenso, onde descobrimos que a Jean Grey, a famosa telepata, era na verdade Madelyne Pryor, seu clone com quem seu marido (Ciclope) teve um filho. Seguindo a estrutura de um clássico desenho animado dos anos 90, onde trinta minutos carregam dois episódios, o capítulo 4 nos apresenta como uma pausa para o que vem a seguir.

Ao chegarmos ao final da primeira metade da temporada, entendemos em um episódio arrasador que a série, na verdade, é para o público cativo que já está crescido. É perceptível que a Marvel entendeu que precisa dialogar com o público de maneira mais aprofundada e então nos apresenta uma virada de chave. Com os 40 minutos mais emocionantes entre todas as séries do estúdio, o episódio 5, intitulado “Lembre-se Disso”, é um deleite para os olhos mesmo que te deixe com o coração partido.

Com isso, partimos para a segunda temporada que entrega, se não a melhor coisa que vimos em uma série da Marvel, com certeza uma das melhores. Naturalmente, estou me referindo ao conhecido dilema moral entre Xavier e Magneto. Confesso que este era um dos meus maiores medos ao assistir à série. Será que teríamos mais um Magneto reduzido a um vilão de ideias rasas? Felizmente, “X-Men 97” sabe qual é o seu público e não só cria uma base muito bem fundamentada para tratar sobre o dilema do racismo que cerca a série, como entrega a melhor adaptação do Magneto já vista. Tudo isso carregado de cenas emocionantes e diálogos afiadíssimos.

Em paralelo, vemos pautas importantes sendo discutidas como perda, luto, ancestralidade, evolução, fan-service e tudo aquilo em que foram moldados os X-Men nas HQs. Tudo de maneira fluida e com o sentimento de já termos visto aquilo antes.

Mesmo trabalhando muitas ideias, entendemos que o tema central de toda a série tem seu desfecho no último episódio. Em meio a discussões políticas e vilania contra a humanidade, percebemos que “X-Men 97” gira em torno do tema da família. Desde a década de 60, o grupo mutante da Marvel sempre se debruçou sobre o tema tanto de maneira mínima quanto drástica. Aqui, vemos a ideia circular entre os personagens sem mesmo notarmos. Scott com seu filho, Cable com seu pai, Xavier com os seus filhos do átomo, Vampira com seu par amoroso. Tudo isso entregue em uma animação de 10 capítulos que ainda tem muito a dizer.

“X-Men 97” é um presente muito carinhoso para os fãs dos quadrinhos. Mesmo que não esteja 100% fiel ao que vemos nas páginas, a nostalgia misturada com ótimas ideias mostra um futuro promissor para a Marvel no mundo das animações. Mesmo que eles estejam focados em apenas blockbusters que já não agradam mais o público.